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19 de outubro de 2020

Trabeculoplastia seletiva por laser

Este verão ouvi falar pela primeira vez da trabeculoplastia seletiva por laser nesta minha aventura por Espanha. Nunca antes me tinha sido sugerida por nenhum médico e, considerando todos os positivos desta intervenção cirúrgica, foi algo que me deixou intrigada. O oftalmologista que me examinou fez-me realizar vários exames e, ao fim de uma hora, disse-me que era demasiado jovem para estar dependente de tantos colírios, que apenas me prejudicavam a saúde ao nível do coração e dos pulmões, e que a melhor terapêutica para o meu caso era esta intervenção cirúrgica de que nunca tinha ouvido falar. Apresentaram-me um orçamento e marcaram a intervenção para daí a uma semana.

A trabeculoplastia seletiva por laser (STL) é uma terapêutica não-invasiva aplicada sobre a malha trabecular e, segundo o que me explicou, funciona estimulando a malha trabecular a segregar melhor o líquido interno do olho, fazendo com que a pressão intraocular baixe.


Estudo de caso sobre STL aqui e aqui.

Esta intervenção aplica-se a pacientes de glaucoma de ângulo aberto e como, teoricamente, não apresenta riscos nem danos relevantes, pode ser repetida. Aliás, como a sua eficácia é limitada a longo prazo, tem de ser repetida.

Não fiz imediatamente a cirurgia, mas tendo em conta que não apresenta riscos, resolvi avançar, numa tentativa de diminuir a necessidade de colírios.

O motivo porque não é adequada para o meu caso é porque sofro de um glaucoma congénito de ângulo fechado e tenho uma catarata no olho afetado, pelo que antes de fazer uma STL - isto para obter os melhores resultados - teria de operar primeiro a catarata e, como me foi sugerido recentemente, fazer uma cirurgia combinada para remover a catarata, implantar uma lente e um novo canal artificial para melhorar o corrimento do líquido interno do olho. A par disto teria de continuar a colocar colírios sempre e fazer as consultas de revisão de três em três meses. Portanto, a STL, cujo principal objetivo é a redução da dependência de colírios, não se aplica neste caso.

Na primeira consulta de follow-up que tive com o médico que me recomendou a STL, este queria apresentar-me um novo orçamento para avançar para a cirurgia da catarata e como comecei a questioná-lo disse à assistente para me marcar uma consulta com uma especialista. Passado um mês tive a consulta com a dita especialista que me disse à partida que, no meu caso, tinha de esquecer a hipótese de não precisar de colírios, ou seja, iria sempre precisar de colírios, aliás, se antes colocava duas gotas por dia, receitou-me colírios para passar a colocar cinco gotas por dia: três no olho afetado para o glaucoma e uma em cada olho para diminuir a sensação de secura. Além disso, que no meu caso, nunca poderia ter apenas duas revisões anuais, teria de ter revisões pelo menos de três em três meses.

No meio disto tudo, pergunto-me porque é que a clínica me marcou uma consulta com um médico, que pelos vistos não era especializado em glaucoma, e porque é que este médico não me passou imediatamente para a pessoa competente no final da primeira consulta em vez de tentar interferir num tratamento que não entende e desconhece e insistir numa terapêutica não adequada para o meu caso.

Ao fim e ao cabo, por mais que soe tentador a ideia de termos uma vida normal sem necessidade de colírios e de revisões com um oftalmologista, o que me disse esta jovem especialista hoje, e que para mim faz todo o sentido depois de viver 23 anos com glaucoma, é impossível ter uma vida despreocupada. Poderá ser aparentemente normal, mas nunca o será.

Embora o glaucoma seja uma doença que pode levar à cegueira, não nos podemos agarrar a esta ideia com medo. Temos de procurar quem seja capaz de nos acompanhar, compreender, e não se aproveite das nossas fraquezas. Para quem sofre de glaucoma congénito, passar horas em hospitais ou clínicas é frustrante e praticamente impensável. Não temos uma incapacidade propriamente dita, no meu caso, mas temos de nos ausentar do trabalho várias vezes ao ano, o que não é possível. Não haverá uma solução melhor?


6 de julho de 2020

Vida nova

Em dezembro do ano passado resolvi aceitar um novo desafio, o que significou deixar para trás alguns projetos, mudar de cidade e de país, começar a trabalhar numa nova empresa sem saber ao certo por quanto tempo. Um ano seria garantido.

Afinal o que significou essa mudança para mim? Primeiro significou deixar a minha oftalmologista que me seguia há sete anos. Foi a primeira oftalmologista com quem me mantive durante tantos anos. Parecendo que não, fez uma grande diferença poder ser seguida por alguém em quem confiava e que realmente me acompanhava. Mesmo não sendo a paciente ideal, a paciente que seguia à risca o tratamento e ia a todas as consultas exatamente quando era suposto ir.

Abro aqui um parêntesis para explicar. Há sete anos que era seguida no privado. Antes era seguida no São João, mas dado que tinha seguro de doença pela empresa onde trabalhava, procurei um oftalmologista especializado em Glaucoma e Cataratas no privado para ser seguida por um único oftalmologista com quem pudesse criar um historial e uma relação mais próxima de paciente-médico. Além disso, ir às consultas no São João tornou-se inviável, dado que estava a viver em Lisboa e não no Porto. Outros motivos, no hospital era sempre atendida por um médico diferente, perdia horas à espera de ser atendida e muitas vezes acabava em consultas que eram uma espécie de aula: o médico que me atendia explicava a minha doença aos seus alunos, que me observavam e tiravam os seus apontamentos.
E no privado? Inicialmente ia a uma clínica que tinha uma oftalmologista especializada e todos os aparelhos necessários para poder ir à consulta e fazer os exames todos no mesmo local e, se possível, no próprio dia da consulta. Sabia que ia esperar, mas fazia tudo no mesmo dia, portanto, perdia apenas um dia. Problema? A oftalmologista que me acompanhava deixou a clínica, abriu o seu próprio consultório e eu segui-a porque queria ser seguida pela mesma oftalmologista. O que aconteceu a seguir foi que passei a uma situação menos conveniente para mim em que além de ir às consultas cada vez mais difíceis de marcar pelo número cada vez mais elevado de pacientes, passei a ter de marcar exames noutras clínicas equipadas com os aparelhos necessários. O consultório não tinha acordos com seguros de doença e eu entretanto também perdi o meu seguro de doença por ter deixado de trabalhar para a empresa onde estava. Basicamente mudou tudo. Apesar disso, o que mais me incomodou ainda foram as horas de espera. E no dia que me queixei disso, foi o dia em que a minha médica me disse que talvez devesse procurar outro médico.

Portanto, aqui estou noutro país, e novamente no ponto de partida. Mais devido ao confinamento e porque nem sequer é viável ir a Lisboa de cada vez que preciso de uma consulta, tendo em conta que as consultas serão seguidas de outras consultas para marcar exames noutras clínicas e não disponho desse tempo. Então o problema de sofrer de Glaucoma não é sermos dependentes de colírios, mas sim sermos dependentes de alguém que nos examine e nos prescreva os colíros de que precisamos, já que nem sequer podemos usar os mesmos colírios a vida toda e temos de fazer os exames a vida toda.

Neste momento tenho duas hipóteses, procurar um oftalmologista no privado seguindo a mesma lógica de encontrar alguém, idealmente sempre o mesmo oftalmologista, que me siga pelo menos durante todo o tempo que aqui estiver, ou tentar encontrar alguém no público, porque não sei o dia de amanhã, e não sei por quanto tempo terei seguro de doença. Acho que vou tentar as duas vias, e ver qual delas é a mais conveniente. Numa primeira experiência, posso dizer que em Espanha o médico no serviço particular quando passa uma prescrição para ser levantada na farmácia, o estado não comparticipa o medicamento, assim por um frasco de colírio paguei a totalidade do medicamento: 15 €. É  praticamente um luxo sofrer de Glaucoma.

Como será com o serviço público?